O uso da palavra “hiperfoco” se espalhou pelo TikTok, X (antigo Twitter) e outras plataformas como sinônimo de um pico de interesse, muitas vezes empregado em tom de piada. No entanto, o termo possui origem clínica e costuma ser associado a transtornos como autismo, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e, em menor escala, esquizofrenia.
O que é hiperfoco
De forma geral, hiperfoco descreve um estado em que a pessoa fica completamente absorvida por uma tarefa, perdendo a noção de tempo, necessidades básicas e estímulos externos. Alguns estudos o definem como uma “fixação clínica”, caracterizada pela dificuldade de alternar a atenção para outros assuntos, quase como um transe.
Pessoas neurotípicas também podem relatar experiências semelhantes, mas o fenômeno é mais frequente em quadros psiquiátricos. Pesquisas sugerem a influência de baixos níveis de dopamina nos lobos frontais, substância ligada à função executiva do cérebro. A falta desse neurotransmissor dificultaria “trocar de marcha” para atividades menos estimulantes.
Exemplos práticos
Uma criança que ignora repetidos chamados enquanto joga videogame ilustra bem o hiperfoco. Entre adultos, o comportamento pode resultar em atrasos em reuniões, esquecimentos de compromissos e até descuido com necessidades básicas, como comer ou ir ao banheiro.
Na literatura médica, o hiperfoco costuma ser descrito de forma negativa porque, sem controle, afeta desempenho escolar, produtividade no trabalho e convivência familiar ou social.
Meme versus condição clínica
Nas redes sociais, transformar termos de saúde em gírias tem se tornado comum. “Narcisista” passou a rotular pessoas egoístas, embora o transtorno de personalidade atinja de 0,5% a 1% da população. Já a sigla TOC virou atalho para falar de gosto por organização, distorcendo o Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
Imagem: Criança focada via Norbert Braun/Unsplash
Mais recentemente, a expressão “ficar não verbal” apareceu no TikTok e no X para descrever cansaço social, banalizando a vivência de pessoas autistas que realmente falam pouco ou não falam. O mesmo ocorre com “pensamentos intrusivos”, usada para citar impulsos momentâneos, mas que clinicamente se refere a ideias indesejadas e angustiantes comuns em pacientes com TOC.
Especialistas alertam que empregar diagnósticos como metáfora pode minimizar condições sérias e estigmatizar quem convive com elas. Usuários e criadores de conteúdo são incentivados a checar significados antes de adotar termos médicos em publicações.
Com informações de Olhar Digital