Seul, 22 out. 2025 – A indústria de deep tech da Coreia do Sul tenta equilibrar inovação acelerada e legislação trabalhista mais rígida desde que o país instituiu, de forma abrangente, a jornada de trabalho de até 52 horas semanais em 1.º de janeiro de 2025.
Como funciona o limite
O modelo coreano estabelece 40 horas regulares e até 12 horas extras pagas, geralmente com acréscimo de 50% ou mais. Empresas que descumprem a regra estão sujeitas a multas, responsabilização civil e, em casos graves, prisão de executivos.
Em 2018, companhias com mais de 300 funcionários e órgãos públicos já haviam adotado o teto semanal. A partir deste ano, o alcance passou a ser nacional. Paralelamente, o governo liberou um programa especial que permite, mediante consentimento do trabalhador e aprovação estatal, jornadas de até 64 horas por semana. O prazo de autorização para setores estratégicos, como semicondutores, foi estendido temporariamente de três para seis meses, mas poucos negócios recorreram ao mecanismo. A administração sinaliza que pretende reduzir essas exceções.
Impacto nos investimentos
Para o presidente da gestora de venture capital Bluepoint Partners, Yongkwan Lee, a limitação é um fator relevante ao analisar aportes em áreas como inteligência artificial, semicondutores e computação quântica. “Nos estágios iniciais, quando a tecnologia ainda está sendo desenvolvida, restrições de horário podem afetar o ritmo de entrega das metas”, afirmou.
Levantamento citado por veículos locais indica que 70,4% dos empregados em startups aceitariam trabalhar mais 52 horas semanais caso recebessem compensação adequada.
Visão das startups
Bohyung Kim, diretor de tecnologia da LeMong – empresa apoiada pela LG Uplus que fornece soluções de IA para mais de 13 mil pequenos e médios negócios de alimentação –, descreve a regra como “mais uma restrição que uma proteção”. “Resolver problemas complexos exige criatividade e concentração profunda. Quando surge uma ideia, o relógio deixa de existir; interromper o fluxo pode reduzir a eficiência”, disse.
O cofundador da LeMong, Huiyong Lee, defende cálculo por média mensal. “Normalmente trabalhamos cerca de duas semanas intensas antes de um lançamento e depois o ritmo cai. Se pudéssemos fazer 60 horas nessas fases e 40 na sequência, manteríamos média de 52 horas sem comprometer a operação”, explicou. Segundo ele, regras diferenciadas para companhias de até 20 funcionários e para atividades de P&D ajudariam a adequar prazos.
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Kim acrescentou que colaboradores de alta performance tendem a permanecer mais tempo no trabalho, motivados por bônus, opções de ações ou reconhecimento técnico, e não pelo pagamento de horas extras.
Ponto de vista de investidores
Outro capitalista de risco sediado em Seul, que preferiu não ser identificado, minimizou o efeito imediato da legislação nos investimentos. Ele observa que muitas startups não monitoram horas detalhadamente e não precisam apresentar relatórios formais, a menos que haja denúncia de um funcionário. Para esse investidor, o aperto é maior em setores intensivos em mão de obra, como logística e manufatura, onde salários próximos ao mínimo tornam o pagamento de horas extras mais pesado.
Comparativo internacional
No panorama global, a Coreia do Sul fica no meio da tabela. Alemanha, Reino Unido e França trabalham, em média, de 33 a 48 horas semanais. Austrália adota 38 horas; Canadá, 40. Nos Estados Unidos, a jornada padrão é de 40 horas, sem teto máximo, mas com adicional de 50% para não isentos. A China também prevê 40 horas, com acréscimos de 150% em dias de semana, 200% aos fins de semana e 300% em feriados. O Japão limita a 45 horas extras mensais, ou 370 anuais, enquanto Singapura permite 44 horas regulares e até 72 extras por mês.
Diante da pressão global por produtividade e do avanço de culturas de trabalho mais extensas, como a “996” chinesa (das 9h às 21h, seis dias por semana), fundadores sul-coreanos buscam mecanismos que conciliem competitividade e conformidade legal.
Com informações de TechCrunch